II. Poemas

No 13 de maio
Lílian Maial

sou negra nos olhos
de cabelos negros
de pêlos pretinhos
de lábios carnudos

sou negra no samba
sou negra de raça
a negra da graça
fazendo pirraça

a pele é que é branca
mas eu sou bem negra
também sou escrava
lanhada no tronco

sou negra e sou terra
porque eu sou povo
porque sou guerra
porque sou lodo

a paz é negra
negra utopia
dos filhos iguais
na mesma alforria

sou negra tupi
sou boa na lida
da trouxa, parida
sou par de Zumbi


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NEGRA
Lílian Maial



negra a melanina
o pigmento
a raça resistente e bela

negra a força dos pelos
crina e a cabeleira
a noite e a lua nova

negra a profundeza do mar
a pupila dos olhos
a menina

negro é o infinito
o imenso universo
o segundo

negra a morte
o fim de tudo
o princípio

negra eu
desejo e mistério
ébano luminoso

branca eu
acaso genético
coração Zumbi

negro o pensamento
onde se formam as cores
e de onde vem a luz.


*********
*pelo Dia da Consciência Negra e o fim do racismo subliminar que ainda sobrevive entre os homens.


"O homem não pode falar de amor, enquanto gritar diferenças"
Lílian Maial
 
ZUMBI
Lílian Maial


igualdade - palavra gasta
vence o poder, a força
o domínio
o ego

luta de raça
refrão de cego

Zumbi seria branco,
se negro fosse o feitor

pois que pele é flor
beleza e perfume
enfeite da vontade

sobra o medo embutido
vaga na escola
letra de funk
subir o vidro
esmola

consciência negra
tributo à separação
imposto sobre a melanina

a cada dia nasce um Zumbi na China
no Irã, no Acre, no Congo
em cada esquina

como Cristo,
entre o céu e o crucifixo

como o judeu,
entre o Tovah e o Desmodeu

como Che,
entre o povo e o poder

como a mulher-de-terno
entre a fêmea, a mãe, a escrava e o inferno

zumbi não morreu
nem venceu

está na retina,
nos poros,
na adrenalina

e os punhos ainda guardam os grilhões
e sustentam fuzis e rosas



******
liberdade
 
 
quando não mais
tiver medo
de pagar pelo que não sei


quando não mais
precisar usar
de subterfúgios pra sorrir


quando não mais
virar o rosto
para não ver


só então
em consciência multicor
deixarei de ser


e
s
c
r
a
v
a

lílian maial

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